Bem, não espero que todos compreendam logo de cara. Eu
não compreendi quando aconteceu. Passei quase três meses em silêncio sobre o
assunto, só organizando as ideias e pedindo que Deus me segurasse pela mão e me
guiasse nesse caminho, a princípio tão confuso e complexo.
Sim, quero mesmo ser religioso, consagrar a minha vida a
Deus e estar a serviço da Igreja Católica. Venho pensando e rezando por isso
desde Novembro passado, quando senti que Deus me chamava, e hoje creio ser a
minha vocação, minha missão.
Comentei com minha família assim que me senti seguro
sobre o assunto e há pouco tempo resolvi comentar com alguns amigos, e não me
preocupar se a notícia se espalharia, então vieram perguntas como: “Mas, você
não quer casar, ter filhos?”, “Você sabe que pode servir de outra maneira, né?”.
Não é tão simples quanto possa parecer, não é como escolher qual sabor de
sorvete irei tomar. Sofri e me questionei muito sobre isso, mas é algo maior
que o entendimento objetivo de uma decisão, porque não é um simples desejo
humano, creio ser algo que venha do coração de Deus. De qualquer forma, não me
importo mais com tais perguntas e agradeço aos que respeitam, incentivam e se
alegram por mim!
Sempre estive muito próximo ao Sagrado, das coisas da
Igreja. Mesmo no meu período de deserto espiritual, em que estive quase dois
anos afastado da minha religião, sentia Cristo comigo. Hoje, não sei se consigo
explicar de forma objetiva como é ser chamado à vida religiosa, mas é como se
minha vida fizesse mais sentido, como se eu tivesse sido preparado para isso a
minha vida toda, mesmo que não parecesse. Foi algo que tocou meu coração e não
saiu mais da minha mente, foi o Espírito Santo me inspirando a fazer algo maior
da minha vida, é o desejo de levar Cristo e Sua Palavra a todas as criaturas,
de enxergar em cada sorriso ou lágrima, em cada homem, mulher, criança, idoso,
negro, branco, índio, a “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 27). Contemplar O
Criador, através da criação. É o desejo de ser sinal da presença de Jesus.
Servir, como Ele nos disse que deveríamos fazer (Cf. Mt 20, 26).
Um dia escutei de um frade Agostiniano, Frei Paulo
Gabriel, que um Padre não é melhor que um cristão leigo, só porque dedica sua
vida à Igreja e aos irmãos, pois ambos servem a Deus, cumprem sua missão, mas
cada um no lugar em que Deus os designou, em uma família, como leigo consagrado
ou como religioso. Assim, percebo que poderia, como leigo, enxergar e sentir
tudo o que sinto focado na vida religiosa, mas acredito que viverei e
testemunharei de forma mais completa e, arrisco dizer, satisfatória, sendo
religioso.
Sei dos vários desafios que enfrentarei neste caminho. Irei
me distanciar fisicamente de minha família e amigos (mas continuaremos unidos espiritualmente
e em oração) terei uma regra de vida e uma rotina diferente da que tive até
hoje, enfrentarei provações, tentações, desafios, desânimos. Mas, se é onde
Deus me quer, eis-me aqui!
Uma amiga que também busca a vida consagrada e quer ser
religiosa, disse-me certa vez que se fomos escolhidos é porque Deus sabe que
nós seremos capazes das renúncias e sacrifícios exigidos. Sinto-me uma pessoa e
um servo melhor, nesse desejo de dedicar a minha vida ao povo de Deus e à
construção de Seu Reino, na Ordem. Muitos podem achar que estou iludido com esse caminho, porém na verdade,
só prefiro ter um olhar otimista sobre a situação. Prefiro o copo
sempre meio cheio.
Bem, como disse, não espero que todos compreendam logo de
cara. Eu não compreendi.
“A minha
expectativa e esperança é de que não vou perder a causa, em qualquer hipótese.
Pelo contrário, conservarei toda a minha segurança e, como sempre, também agora
Cristo será engrandecido no meu corpo, quer eu escape da morte, quer não. Para
mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro.”
(Filipenses 1, 20-21)